terça-feira, 23 de setembro de 2008

OITAVO DIA - DIA 22/09

Bem, começo dizendo que não pude relatar o oitavo dia, pois não tinha internet e, portanto, deixei para relatar os eventos ocorridos nesse instante.

Nem todo dia é o dia do caçador e gostaria muito de apagar o dia 22, pois nada deu certo. Os meus maiores fantasmas vieram fazer uma visita e não me deixaram tão cedo.

O dia começou com a manhã fria de SUSQUES quando perguntei ao meu pai se estava tudo bem com o carro e ele me informou que o carro não estava pegando devido ao frio que fez a noite, - 11 graus. Pois é, congelou o filtro de combustível e enquanto não descongelasse, o carro ficaria parado.

Pegamos um pano, enrolamos o filtro e despejamos muita água quente. Não é que funcionou!!! Mas algo não cheirava bem e o pior estava por vir.

Começamos a subir, subir, subir, até que o carro apagou... sem força. Você poderia notar pelo escapamento que não tinha mistura. Saía uma fumaça muito preta. Lembro que não temos muito oxigênio a 4.700 metros.

O YELLOW BIRD nos deixou na mão. Nos deixou a 4.700 metros sem oxigênio, num frio e longe de tudo. Estávamos abandonados a própria sorte.

O desespero tomou conta de todos, pois era um imprevisto que não estava nos nossos planos.

No meio do nada, com o nível de stress altíssimo é que você nota que você não é nada diante daquilo. É uma burrice achar que está seguro. Nós não estávamos preparados. Era difícil enfrentar a situação. Não estávamos no nosso habitat. O carro tinha somente água e um GPS.

Cheguei a conclusão que uma viajem desse porte deve ser feita com no mínimo dois carros muito equipados. Tentamos a sorte, mas ela passou por outra estrada.

Tudo que estava sendo maravilhoso parecia estar desabando.

Quanto mais eu olhava para a Mariana mais eu me desesperava em ver o estado dela, pois ela estava sem conseguir respirar direito, a cabeça dela estava explodindo e eu estava ali impotente diante da situação.

Estávamos passando por isso sem comida.

Eu estava fazendo muito esforço a 4.700 metros. Tira mala, bota mola, tira mala, procura ferramentas não existentes. Haja folha de coca !!!. Não adiantou muito e ainda por cima, quebrei o meu óculos de 370 dólares.

É natural haver desentendimentos numa situação dessa mas tivemos em excesso e nada parecia dar certo.

O meu pai com a sua opinião singular tentava reverter a situação. Tudo era em vão.

Alguns caminhoneiros pararam para nos rebocar ladeira acima e ladeira abaixo. Porém, não havia muito mais o que fazer. Aquele mínimo era o máximo que podíamos fazer.

Até que pararam dois carros de uma expedição de argentinos que tentaram nos auxiliar sem qualquer sucesso, apesar da boa vontade. Notei que no carro deles parecia uma nave espacial cheia de equipamentos. Telefones via satélite, GPS, radio comunicadores, ferramentas, além da experiência deles que já conheciam o local. Viajavam em dois carros.

Decidimos, como estávamos perto do SÃO PEDRO DE ATACAMA, que a Gloriete e a Mariana fossem para a aduana, na fronteira, juntamente com o grupo de argentinos, pedir ajuda e conseguir um reboque.

As horas passavam e o medo ia aumentando. Estava com medo sim. Não queria ficar longe da Mariana.

Enquanto elas foram buscar ajuda, um caminhoneiro paraguaio parou e nos prestou um enorme auxilio. Enquanto rebocava o carro ladeira abaixo me disse que é muito perigoso dormir em SUSQUES, pois lá é alto e faz muito frio. Os caminhoneiros evitam ficar muito tempo lá pois eles tem medo que o tanque do caminhão e outras partes congelem. Falou que é muito difícil obter ajuda naquela região e que nós não deveríamos ter nos arriscado sozinhos. Nós não sabíamos disso. Pelo menos eu confesso que eu não sabia disso.

Muito mais tarde, olho no horizonte e vejo uma pick-up velha subindo vindo ao nosso encontro. Era a nossa salvação.

Passamos pela fronteira rebocados. Depois de muito tempo ainda tivemos que enfrentar a burocracia da fronteira.

Eu não via mais nada. Só queria um lugar para descansar e um bom prato de comida.

O reboque nos deixou num estacionamento e fomos a pé procurar um lugar para ficar.

Muito cansados e sem energia física e emocional, caminhamos até conseguirmos um hotel.

Já no hotel o meu pai começou a agilizar um reboque para poder colocar o carro no estacionamento do hotel. Já ficou sabendo também que existe uma autorizada Nissan na cidade de CALAMA à 105 kms e se programou para ir lá pela manhã.

Foi muito triste ver o YELLOW BIRD apagado.

Depois de um bom banho e uma boa comida as forças começaram a voltar e a alegria aparecer, porém começou a pintar em mim e na Mariana uma certa incerteza de saber o que seria do amanhã.

A saudade agora fica maior.

Deus sabe o que faz. Tudo tem um propósito. Sim, aprendemos com a situação mas eu não gostaria de passar novamente por isso e não desejo isso a ninguém.

Aconselho a quem quiser um dia vir por estas bandas que se prepare mais. O máximo ainda não é suficiente. Este lugar não perdoa imperícias, imprudências, negligências e falta de informação.

Deixo de colocar fotos, pois não tive cabeça para tirá-las.

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